Jornalista
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1) Quais são os maiores problemas enfrentados atualmente em sua área de atuação?
Como jornalista especializado na cobertura da indústria de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração, percebo que, com raras exceções, há uma certa indiferença quanto às boas práticas no setor.
Aqui no Brasil e em muitos outros países, por exemplo, quase nenhum técnico de campo recolhe e recicla gases refrigerantes, embora isso seja contraproducente do ponto de vista econômico, pois lançar essas substâncias na atmosfera é um grande desperdício de dinheiro, além de ser um crime ambiental gravíssimo.
Reconheço que, por meio do Protocolo de Montreal, a humanidade já avançou muito em relação à eliminação dos compostos que destroem a camada de ozônio, mas ainda há muito a se fazer nesse campo, pois a grande maioria dos gases à base de clorofluorcarbonos – os famosos CFCs – vem sendo substituída mundo afora por substâncias livres de cloro, mas que agravam o efeito estufa. Estou falando, especificamente, dos hidrofluorcarbonos – os HFCs – de alto potencial de aquecimento global.
Ademais, temos outro grande desafio, que é acionamento de sistemas de iluminação, ventilação, refrigeração e ar condicionado por meio de eletricidade gerada por fontes de energia poluidoras, o que, na prática, seria desnecessário nos dias de hoje.
2) Na sua opinião, quais são as principais causas psíquicas e sociais da destruição que está atingindo o planeta, de maneira global, particularmente em sua área de atuação?
Confesso não ter nenhuma base razoável de conhecimento para avaliar quais seriam as causas psíquicas da destruição do planeta que vemos atualmente, mas posso dizer, com base na minha modesta opinião, que a desconexão do homem com a natureza e o mundo metafísico, processo supostamente agravado pela industrialização da sociedade moderna e a reificação da humanidade, pode ser a origem dos desastres ecológicos e sociais que estamos vivenciando.
As guerras contemporâneas, o fluxo migratório em massa e a dependência que ainda temos em relação aos combustíveis fósseis e a outras tecnologias poluidoras, como fluidos refrigerantes que aumentam o buraco da camada de ozônio e/ou agravam a crise climática, estão aí para reforçar o que estou dizendo.
De maneira geral, avalio que a falta de percepção de riscos aos quais a humanidade como um todo está se expondo e o negacionismo em relação à ciência são as principais causas dos problemas socioambientais que o mundo enfrenta ultimamente.
Quando falo de riscos, estou me referindo, mais especificamente, à destruição do meio ambiente ocasionada por queimadas, desmatamento e poluição em geral do solo, dos corpos hídricos e da atmosfera.
E não é só o planeta que paga a conta, não, por essa nossa falta de consciência ambiental. Anualmente, o prejuízo econômico desse nosso comportamento, impulsionado por uma sociedade baseada no consumo desenfreado – e, diga-se de passagem, insustentável –, ultrapassa a casa dos trilhões de dólares, ou seja, estamos perdendo biodiversidade, saúde e dinheiro ao mesmo tempo.
Convenhamos, não há nenhuma lógica nesse cenário de visão e práticas desorientadas ou desconectadas do mundo ou da realidade que temos observado, uma vez que já existem tecnologias que podem nos livrar disso, entre as quais motores elétricos muito mais eficientes dos que os atuais, fluidos frigoríficos mais ecológicos e produtos e serviços sustentáveis.
Já podemos construir uma sociedade de baixo carbono – ou até mesmo neutra em carbono –, mais inclusiva e equânime do ponto de vista socioeconômico, basta vontade das classes política e empresarial, assim como das pessoas de uma forma geral. Porém, a janela de oportunidades para fazermos isso já está se fechando.
Precisamos, enfim, agir logo – na verdade, agora, sem pestanejar –, atacando o cerne desses problemas. Do contrário, a vida na Terra se tornará insuportável, isto é, insustentável já no médio prazo.
Por sinal, muitas das consequências da emergência climática já se tornaram irreversíveis, conforme concluem os cientistas do painel climático da ONU. A temperatura média da Terra está subindo e vai subir ainda mais – e não temos mais o que fazer, a não ser apenas desacelerar o ritmo desse aumento e, assim, torná-lo menos drástico para nossas vidas e para as gerações atuais e futuras.
3) O que pode ser feito para brecar essa destruição?
A palavra-chave aqui é “educação”. Mas, quando falo de educação, estou falando de uma educação inclusiva e libertadora, não de uma educação adestradora, ubanocêntrica e alienante por sua essência. Estou falando aqui de uma educação que transcende os paradigmas atuais, de uma educação que dá as mesmas oportunidades para todos, independentemente da classe econômica daqueles que aprendem.
Estou falando de uma educação que ensina aos alunos a cuidar melhor do meio ambiente, das pessoas e que proporciona oportunidades mais justas para todos, e não daquela educação que só favorece aqueles que têm mais em detrimento daqueles que têm menos em termos econômicos. É isso que precisamos para enfrentar todos os problemas ambientais, sociais e econômicos de hoje e do futuro. Não vejo outra solução, se não for essa.
Para finalizar, agradeço a todos os organizadores desse fórum pela oportunidade de expressar essas minhas ideias a partir da minha experiência e perspectiva como jornalista cobrindo essa temática.
Todavia, antes de finalizar estas palavras, gostaria de salientar que devemos nos preocupar em construir um futuro que não despreze as pessoas e aquilo que elas são.
Ressalto que esta minha fala toda está amparada nos preceitos da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, nos seus 17 objetivos e, mais especialmente, no Objetivo 16 – Paz, Justiça e Instituições Fortes.
Por fim, deixo aqui meus mais sinceros agradecimentos a vocês que estão me ouvindo agora e, principalmente, àqueles que ouvirão esta minha mensagem nos dias porvir.